A Negritude não é apenas passiva.

A Negritude não é apenas passiva.

A memória recente do dia 21 de março, instituído pelas organizações das nações unidades, como dia Internacional de Luta pela Eliminação da Discriminação Racial, visa denunciar, mesmo que 64 anos depois, a condição de subalternidade a qual ainda se encontram as pessoas negras.

Frei Higor Ferreira de Oliveira, ofm

A Negritude não é apenas passiva. 
É um despertar, e um despertar da dignidade.
É um rechaço, e um rechaço da opressão.
É um combate, e um combate contra a desigualdade.
É também revolta! 
Aimé Césaire

Em 21 de março de 1960, cerca de 69 pessoas foram assassinadas na Cidade de Sharpeville, na África do Sul, pelo movimento de segregação racial, apartheid. Este ocorrido teve suas motivações devido a luta pelo fim da lei passe livre, onde a comunidade negra exigia liberdade para poder frequentar lugares e terem acessos que somente eram permitidos às pessoas brancas. Ao contrário, pessoas negras só podiam transitar portando uma caderneta com a licença do governo.

A memória recente do dia 21 de março, instituído pelas organizações das nações unidades, como dia Internacional de Luta pela Eliminação da Discriminação Racial, visa denunciar, mesmo que 64 anos depois, a condição de subalternidade a qual ainda se encontram as pessoas negras.

Este dia é instituído com uma declaração que traz em seus princípios as motivações para a superação da discriminação racial. Em seu primeiro artigo, a declaração deixa nítida sua intenção e motivação, pois “A discriminação entre seres humanos em razão da raça, cor ou origem étnica é uma ofensa à dignidade humana e será condenado como uma negação dos princípios da Carta das Nações Unidas, como uma violação dos direitos humanos e liberdades fundamentais proclamados na Declaração Universal dos Direitos Humanos, como um obstáculo às relações amigáveis e pacíficas entre as nações e como um fato capaz de perturbar a paz e a segurança entre os povos.”

Ao retomarmos essa declaração, somos desafiados a mudar essa realidade, a memória não é mais suficiente para nos fazer mudar um acontecimento. Por vezes escutamos um velho jargão, que devemos estudar o passado para não repetir no futuro, no entanto, ainda, somos acometidos por uma amnésia social que perpetua de geração em geração! Por que razão, ainda, insistimos em lembrar a cada dia 21 de março da luta contra a discriminação racial? Por que motivos, ainda, escrevemos textos e fazemos reportagens, entrevistas e até mesmo postagens em mídias sociais se não surtem efeitos de mudanças?

Em média, 4 a 5 pessoas negras são assassinadas por hora no Brasil; “com efeito, no Brasil a violência é a principal causa de morte dos jovens. Em 2021, de cada cem jovens entre 15 e 29 anos que morreram no país por qualquer causa, 49 foram vítimas da violência letal. Dos 47.847 homicídios ocorridos no Brasil em 2021, 50,6% vitimaram jovens entre 15 e 29 anos. São 24.217 jovens que tiveram suas vidas ceifadas prematuramente, com uma média de 66 jovens assassinados por dia no país”[1]. Estes dados nos revelam o quanto ainda precisamos ampliar nossa luta pelo fim da discriminação racial.

No contexto de País que vivemos, é preciso empreendermos uma cultura antirracista. Não nos basta mais fazermos ações teóricas e escrevemos boas pesquisas e fornecer manuais, está na hora de nos indignarmos contra este sistema racista que mata, oprime e aprisiona cotidianamente homens e mulheres negras. Somente quando nos indignarmos contra o racismo, o preconceito e a injúria racial, poderemos ser uma sociedade antirracista que preze pela dignidade das pessoas negras.

E aí? Qual a sua parte nesta luta? Já se indignou contra o seu racismo hoje?


[1] https://www.ipea.gov.br/atlasviolencia/arquivos/artigos/9350-223443riatlasdaviolencia2023-final.pdf Acesso em 20/03/2024

Foto: Imagem grátis de Freepik

Leia outras notícias