“Xipat pain”, em uma tradução livre poderia dizer “olá, frei”, e veio com apertos de mãos fortes e muitos sorrisos.
Relato: Frei Bruno
Chegamos ao Ramal do Bena umas 8h30 da manhã, nome dado a uma entrada do Rio Tapajós onde um Senhor construiu uma estrutura com quartos e um restaurante para que as pessoas pudessem se encontrar e seguir viagem nas voadeiras. Hora de descarregar tudo da camionete e colocar na voadeira de 11 metros. Galões de combustível, máquina de costura, baterias, mantimentos. Havia um senhor indígena, chamado de “Capitãozinho”, a nossa espera com duas crianças. Tudo pronto! Frei Edilson puxou a oração e demos a partida.
Ao som do motor a voadeira pegava sua velocidade e a brisa acalmava o calor. Frei Edilson nos explicava os desafios que poderíamos encontrar pela frente. Neste período o rio está baixo e com isso a navegação deve ser cuidadosa por causa de pedras e areais que vão surgindo, com isso, íamos contornando o rio e hora estávamos do lado do Estado amazônico, hora do estado do Pará.
A primeira paradinha técnica foi numa aldeia não muito longe ao Ramal do Bena para comunicar com a Missão, ainda por rádio frequência para descerem uma equipe numa voadeira porque havia ficado alguns litros de combustível para trás por não caber na nossa, só uns 400 litros. Nesta hora, os roncos da barriga já davam sinal que estava na hora de comer algo. Havíamos comprado muitas coisas para levar e dentre as coisas uma bexiga de mortadela foi a salvação; pão de forma com suculentas rodelas de mortadela e nossas águas nos saciavam, também tinham os biscoitos e por último e não menos importante uns chocolates.
O senhor que estava conduzindo a embarcação iniciou um papo comigo e como ele sabia que eu era da área da saúde, após um tempinho de conversa me mostrou seu pé. Havia sido picado por arraia enquanto se banhava no rio. Ele disse que enquanto entrava no rio, não viu e quando pisou ela o atacou. O veneno ali inoculado demoraria uns 3 meses para sair segundo ele, doía muito e ao colocar a mão percebi que estava bem quente o local. Mas claro, entendi o por que dos 3 meses e disse que quando chegássemos na missão eu mesmo faria a limpeza da ferida e colocaria um remédio. Um sorriso no rosto e uma enrugada na testa confirmava minha intenção, seguimos.
Com algumas paradas para trocar o galão de combustível e também para mudar o motor de lugar por causa das pedras e areais, seguimos a tarde toda. O calor e muito sol nos acompanhava sem trégua, de vez em quando éramos surpreendidos por alguma nuvem caridosa que permitia o fresco.
Já era por volta das 17 horas quando perguntei ao frei Edilson se faltava muito para chegar, afinal, já estávamos nesta subida a mais de 7 horas, e ele prontamente disse que mais um tempo era necessário. Neste momento também largávamos o rio Tapajós e pegamos o rio Cururu, nome que a Missão leva. Ficou mais encantador ainda, pois era um rio menor, mas com uma beleza exuberante, observamos muitos pássaros e também animais bem de perto, e lá estavam os temidos jacarés do rio Cururu.
O fim de tarde caía rápido e com ele nos trouxe uma grande lua que iluminaria nossa chegada. Contemplamos o que por vezes perdemos, contemplamos o céu. O sentimento de gratidão, de calmaria era impressionante dentro do meu ser. Próximo as 21 horas estávamos chegando na Missão Cururu e quando paramos, cessou o barulho, ficamos pensando que já era hora de pisar na água e carregar as coisas. De repente vi e presenciei um momento lindo. Percebemos uma luz vindo em nossa direção, logo em seguida pareceram várias luzes e do nada começaram a saudar cada um de nós que chegávamos.
“Xipat pain”, em uma tradução livre poderia dizer “olá, frei” e veio com apertos de mãos fortes e muitos sorrisos. Mais de 40 guerreiros mundurucus foram nos ajudar com nossas bagagens e lá também ao nosso encontro estava a Irmã Claudia, mulher forte que se dedica a missão Munduruku na missão Cururu. Luciana, aspirante das irmãs nos aguardava nos dando boas-vindas.
Tudo em ordem, tomamos um bom banho frio e fomos jantar para descansar um pouco, afinal já era quase 00h.
Em breve lhes envio a semana vivida na Missão Cururu. Boa leitura a todos!
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